domingo, 21 de dezembro de 2008

Amor por Odor

Ela tinha um olhar arremetido quando cheguei. Pegou-me num júbilo de saudade que nem mesmo vez para reação eu tinha.
Eu a olhava, ela me olhava. Eu desviava e ela ainda assim me olhava de volta. Sim, eu fui Laura, mas agora já não importava meu nome. Todos sabiam quem eu era.
As pessoas eram as mesmas, mas os ares diferentes. As lâmpadas eram as mesmas, mas as luzes diferentes. E o mesmo com as dançarinas e as danças, a sedução e o gozo. O que mudara? Parece que ao sair do cabaré eu havia também saído de uma casinha de onde ficara observando a rua. Observando, assim como todo mundo faz.

Se eu mudara por voltar, não poderia dizer por quê. Sonharia. Um sonho num prostíbulo se confundiria com um delírio da profissão.
Percebiam pelo cheiro quando costurava um caminhar desprezível ao meio do salão. Senti a pulsação dos corações-membros dos homens me acompanhando no lugar do olhar. A noite estava por começar, assim.
Mas ela ainda me tinha um olhar arremetido e, agora, mordia a boca sem perceber.
Não se resiste ao olhar dela. Menos ainda se resiste à boca.
No entanto, não a respondi como ela queria. Não mais o sabia.

Maçã pecaminosa é o cheiro que sente a dama nos sapatos da corja. Ela era Virginia.

Por Laura Valente

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